quinta-feira, 5 de fevereiro de 2009

Memorial do Convento

A sua história desenrola-se durante o reinado de D. João V, durante o período de construção do Convento de Mafra. Este período é caracterizado por personagens históricas, como a família real, assim como por acontecimentos populares da época, os famosos autos-de-fé, as procissões e as touradas. Assim nos é apresentado, por um lado, o mundo postiço e ostentatório da realeza, por outro, uma sociedade estratificada de superstição e ignorância que espelham Portugal na primeira metade do século XVIII, sob a égide do Santo Ofício.

É com personagens nobres que a história começa. No entanto é no meio da multidão, anónima, que salienta os seus personagens, elementos do povo, Blimunda Sete-Luas, uma mulher que enxerga o íntimo das pessoas se em jejum se encontrar e Baltasar Sete-Sóis, maneta por causa da guerra, e o padre que quer voar, Bartolomeu de Gusmão, este último o pilar da acção. Esta passa-se, na edificação do referido Convento ("por um voto que o rei fez se lhe nascesse um filho") e as vidas e verbas que empenha, e ao mesmo tempo, na construção da Passarola pelas personagens principais. A Passarola, construída a partir dos projectos de Bartolomeu de Gusmão, por Baltasar, e voando graças às intenções humanas encerradas nas suas esferas que Blimunda agarrara nos corpos das pessoas, simboliza a condição humana como condição sagrada: "Deus estava fora do homem e não podia estar nele, depois, pelo sacramento passou a estar nele, assim o homem é quase Deus, ou será afinal o próprio Deus, sim, sim, se em mim está Deus, eu sou Deus, sou-o de modo não trino ou quádruplo, mas uno, uno com Deus". É esta prova "sacrílega" que ensandece Bartolomeu, conduzindo-o a tentar queimar a Passarola depois de nela ter fugido, com Baltasar e Blimunda, por temer o Santo Ofício. O Convento representa o sacrifício da força humana curvada a uma vontade individual.


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