quarta-feira, 11 de fevereiro de 2009

Reflexões das Personagens

Tiago Faisca

D. João V


Para mim, D. João V é uma personagem com bastante poder, poder esse com o qual pode fazer o que quiser com quem quiser, dai a exploração das minas de ouro em que o povo é alvo de escravatura. Devido ao longo periodo de tempo em que reinou, conseguiu realizar grandes obras tanto no campo da arte, como no da literatura e da ciência, tendo ficado conhecido por “o Magnânimo”. Na cultura ficou conhecido pela construção Real Academia Portuguesa de História e a introdução da ópera italiana. Na minha opinião, D. João V exagera muito quando manda fazer o Palácio-Convento de Mafra em agradecimento pelo nascimento do primeiro filho, não me impedindo isso de dizer que é um dos melhores monumentos de Portugal devido a todos os pormenores utilizados na sua construção.



Povo

A meu ver, o Povo é uma personagem que é constantemente mal tratada durante todo o extenso periodo de construção do Palácio-Convento de Mafra, tendo sido o maior desafio o de carregar a pedra especial que iria estar na varanda sobre o pórtico da Igreja. Este esforço por parte do povo é demonstrado pelas seguintes expressões: “(...)melhor é julgarmos(...)com todos estes homens que se estão levantando noite ainda e vão partir para Pêro Pinheiro, eles e os quatrocentos bois, e mais de vinte carros que levam os petrechos para a condução(...)” ; “(...)era preciso ir a Pêro Pinheiro buscar uma pedra muito grande que lá estava(...)”.

Penso que seja devido a este constante tipo de tratamento a que o Povo estava sujeito que fez com que esta personagem tivesse uma enorme ambição sanguinária pelas touradas e pelos Autos-de-Fé, sendo o último o que era mais desejável mas que era realizado uma ou duas vezes no espaço de dois anos.



João Silva

Povo


Na minha opinião, a abordagem evidencia de forma critica uma classe social desprotegida e sofredora à mercê dos caprichos do clero e da realeza empenhados em manter o poder sobre o Povo. O autor deixa expresso duas questões fundamentais que se prendem com o quotidiano de uma classe inculta reprimida e explorada.

Na obra, o povo atravessa toda a narrativa, na construção do Convento de Mafra que leva ao limite a sua força física e mental e aproveita, juntamente com outras personagens, para participar em festas de romaria, touradas e Autos-de-fé (a qual, na história, acontece pela primeira vez em dois anos). Saramago retrata -nos o vibrar popular com a tortura humana. O desfile e o apupar dos acusados; ou a sua morte atroz na fogueira. Por outro lado, o mesmo povo também se realiza e exulta com a tortura e morte do animal, no caso as touradas, espectáculo milenar no Mediterrâneo, onde a frustração e o triste fado de uma vida fazem a purificação e se sublimam na festa.

O Povo aproveita para se divertir com a miséria e o sofrimento de si próprio e, deste modo deixa livre o campo de acção das classes dominantes. O narrador quando fala dessas festas manifesta a dúvida se o Povo gostava mais de touradas ou de Autos-de-fé, chegando à conclusão que ao ter uma ambição sanguinária preferiam os Auto-de-fé na procura de emoções fortes.

O Povo, por outro lado, no Memorial do Convento, tentava igualmente actos heróicos para o benefício de todos. Contudo o narrador aproveita esta situação para comparar o tipo de heróis.



D. João V


D. João V representa o poder e a riqueza, devido aos seus grandes feitos na área da arte, da literatura e da ciência, e conhecido por “o Magnânimo”.

Saramago explora a situação de D. João V e de D. Maria Ana de Áustria não poderem ter filhos para descrever os acontecimentos da “aventura”, para mostrar o querer e o poder, indiferentes ao sofrimento e necessidades da classe mais desfavorecida. Penso que se trata de uma atitude caprichosa, precipitada e exagerada.

Na minha opinião José Saramago retrata bem a situação no seu livro, mostrando a dedicação que o rei teve para conseguir ter um filho levando à construção do Convento de Mafra. D.João V e D.Maria para mim são representantes do poder, da ordem e da repressão absolutista.



Tiago & João


Padre Bartolomeu

O Padre Bartolomeu Lourenço de Gusmão também é uma das personagens marcantes, conhecido como inventor, e que conseguiu criar algo que muitos achavam impossível, a passarola. Esta personagem exemplifica o talento e a riqueza cultural de muitos portugueses ligados à Igreja, mas perseguidos pela Inquisição. Saramago pretende mostrar-nos o poder infinito que a Inquisição tinha sobre um país inteiro, incluindo as classes sociais mais ricas no controlo dos livros que as pessoas consultavam, sendo muitas vezes obrigadas a fugir para outros lugares. Como exemplo aparece-nos esta personagem, o Padre Bartolomeu de Gusmão que foi obrigado a interromper o seu curso Universitário em Coimbra com receio de ser condenado à morte, pela sua capacidade de invenção.


VISÃO CRÍTICA do Memorial do convento

Tendo como pretexto a construção do convento de Mafra, Saramago, adoptando a perspectiva de um narrador distanciado do tempo da diegese, apresenta uma visão crítica da sociedade portuguesa da primeira metade do século XVIII. É neste sentido que Memorial do Convento transpõe a classificação de romance histórico, uma vez que não se trata de uma mera reconstituição de um acontecimento histórico, mas é antes um testemunho intemporal e universal do sofrimento de um povo sujeito à tirania de uma sociedade em que só a vontade de el-rei prevalecem o resto é nada (XXII).
Logo desde o início do romance é visível o tom irónico e, até mesmo, sarcástico do narrador relativamente à hipotética esterilidade da rainha e à infidelidades do rei. Esta atitude irónica do narrador mantém-se ao longo da obra, denunciando o comportamento leviano do rei, a sua vaidade desmedida e as promessas megalómanas de que resulta o sofrimento extreo de homens que não fizeram filho nenhum à rainha e eles é que pagam o voto, que se lixam (XIX).
O clero, que exerce o seu poder sobre o povo ignorante através da instauração de um regime repressivo entre os seus seguidores e que constantemente quebra o voto de castidade, também não escapa ao olhar crítico e sarcástico do narrador. A actuação da Inquisição que, à luz da fé cristã, manipula os mais fracos é de igual modo criticada ao longo do romance, nomeadamente, através da apresentação de diversos autos-de-fé e uma crítica às pessoas que dançam em volta das fogueiras onde se queimaram os condenados.
Assim, são sobretudo as personagens de estatuto social privilegiado o alvo da crítica do narrador que denuncia as injustiças sociais, a omnipotência dos poderosos e a exploração do povo – evidenciada nas miseráveis condições de trabalho dos operários do convento de Mafra; ao mesmo tempo que denota empatia face aos mais desfavorecidos, cujo esforço elogia e enaltece.
A crítica estende-se, ainda: à Justiça portuguesa que castiga os pobres e despenaliza os ricos, ao facto de se preterir os artífices e os produtos nacionais em defesa dos estrangeiros, bem como ao adultério e À corrupção generalizados.
Em suma, Memorial do Convento constitui acima de tudo uma reflexão crítica – ao problematizar temas perfeitamente adaptáveis à época contemporânea do autor – conducente a uma releitura do passado e à correcção da visão que se tem da História.



Fonte:http://portugues-1.blogspot.com/2008/06/viso-crtica-do-memorial-do-convento.html

D. João V

Filho de D. Pedro II e de Maria Sofia de Neubourg, foi aclamado rei em 1707.

Quando inciou o reinado, estava-se em plena Guerra da Sucessão de Espanha, que para Portugal significava o perigo da ligação daquele país à grande potência continental que era a França. No entanto, a subida ao trono austríaco do imperador Carlos III, pretendente ao trono espanhol, facilitou a paz que foi assinada em Utreque, em 1714. Portugal viu reconhecida a sua soberania sobre as terras amazónicas e, no ano seguinte, a paz com a Espanha garantia‑nos a restituição da colónia do Sacramento.

Aprendeu D. João V com esta guerra a não dar um apreço muito grande às questões europeias e à sinceridade dos acordos; daí em diante permaneceu inalteravelmente fiel aos seus interesses atlânticos, comerciais e políticos, reafirmando nesse sentido a aliança com a Inglaterra. Em relação ao Brasil, que foi sem dúvida a sua principal preocupação, tratou D. João V de canalizar para lá um considerável número de emigrantes, ampliou os quadros administrativos, militares e técnicos, reformou os impostos e ampliou a cultura do açúcar. Apesar disso, Portugal entra numa fase de dificuldades económicas, devidas ao contrabando do ouro do Brasil e às dificuldades do império do Oriente.

A este estado de coisas procura o rei responder com o fomento industrial, mas outros problemas surgem, agora de carácter social: insubordinação de nobres, quebras de discipliana conventual, conflitos de trabalho, intensificação do ódio ao judeu. Por outro lado, o facto da máquina administrativa e política do absolutismo não estar de maneira nenhuma preparada para a complexidade crescente da vida da nação, só veio agravar as dificuldades citadas.

Culturalmente, o reinado de D. João V tem aspectos de muito interesse. O barroco manifesta-se na arquitectura, mobiliário, talha, azulejo e ourivesaria, com grande riqueza. No campo filosófico surge Luís António Verney com o Verdadeiro Método de Estudar e, no campo literário, António José da Silva. É fundada a Real Academia Portuguesa de História e a ópera italiana é introduzida em Portugal.





Fonte: http://www.arqnet.pt/portal/portugal/temashistoria/joao5.html

Povo

O verdadeiro protagonista de Memorial do Convento é o povo trabalhador. Espoliado, rude, violento, o povo atravessa toda a narrativa, numa construção de figuras que, embora corporizadas por Baltasar e Blimunda, tipificam a massa colectiva e anónima que construiu, de facto, o convento. A crítica e o olhar mordaz do narrador enfatizam a escravidão a que foram sujeitos quarenta mil portugueses, para alimentar o sonho de um rei megalómano ao qual se atribui a edificação do Convento de Mafra.

A necessidade de individualizar personagens que representam a força motriz que erigiu o palácio-convento, sob um regime opressivo, é a verdadeira elegia de Saramago para todos aqueles que, embora ficcionais, traduzem a essência de ser português.


Autos-de-Fé








O Rossio está novamente cheio de assistência; a população está duplamente em festa, porque é domingo e porque vai assistir a um auto-de-­fé (passaram dois anos após o último evento deste tipo).

O narrador revela a sua dificuldade em perceber se o povo gosta mais de autos-de-fé ou de touradas, evidenciando com esta afirmação a sua ironia crítica perante um povo que revela um gosto sanguinário e procura nas emoções fortes uma forma de preencher o vazio da sua existência.

A assistência feminina, à janela, exibe as suas toilettes, preocupa-se com pormenores fúteis relativos à sua aparência (a segurança dos sinaizinhos no rosto, a borbulha encoberta), e aproveita a ocasião para se entregar a jogos de sedução com os pretendentes que se passeiam em baixo.

A proximidade da morte dos condenados constitui o motivo do ambiente de festa; esta constatação suscita, mais uma vez, a crítica do narrador - na realidade, o facto de as pessoas saberem que alguns dos sentenciados iriam, em breve, arder nas fogueiras não as inibia de se refrescarem com água, limonada e talhadas de melancia e de se consolarem com tremoços, pinhões, tâmaras e queijadas.